Bom Domingo a todos! Hoje o tema do post foi sugerido por uma querida leitora (obrigada desde já pela vossa participação! ), que colocou a seguinte questão:
"Gostava de saber por que é que há pais que não gostam dos filhos enquanto estes são crianças, e passam a gostar e a tratá-los bem quando estes se tornam adultos."
Em primeiro lugar, acho importante esclarecer aqui uma questão: não se trata dos pais não gostarem do filho, em si, por aquilo que ele é (qualidades físicas e/ou psicológicas), mas antes por não gostarem de estar no papel de pais! Estudos recentes demonstram que 3% das mães não sentem prazer na maternidade (não se sentem preparadas ou simplesmente não gostam de ser mães), e daí a falta de amor que lhes possa estar associada.
Outra das razões tem a ver com a relação que a mãe estabelece com o filho à nascença - que se dá pelo nome de vinculação. Esta vinculação pode ser segura se a mãe consegue ter uma boa relação com o filho, ou, caso contrário, insegura.
E dentro da vinculação insegura encontra-se: a vinculação evitante (onde a mãe está indisponível para a criança, ou rejeita-a - vai originar um adulto com baixa auto-estima e medo em relacionar-se com os outros), a vinculação ambivalente (onde a mãe é inconstante nas suas ações, e imprevisível - vai originar adultos ansiosos, e hostis) e a vinculação desorganizada (no qual a mãe pode se revelar abusiva, ou extremamente negligente, e leva a desenvolver adultos muito inseguros, que não se sentem merecedores de amor).
A forma como a vinculação é feita tem muito a ver com a história de vida da própria mãe, e da forma como ela foi educada pelos seus pais. Os padrões são, muitas vezes, repetidos. Pais que foram vítimas de maus tratos tendem a gerar filhos abusivos, pais fragilizados e que não sentiram amor em infância geram filhos frios e distantes, por aí fora... E isto não significa necessariamente que não gostem dos seus filhos, mas sim que foram ensinados que é assim que se demonstra o seu "amor" por alguém.
Em relação à segunda parte da tua questão: Não gostarem dos filhos em crianças, mas tratá-los bem em adultos; também pode haver várias explicações para isso. Pode dar-se o caso do filho não ter sido planeado; dos pais terem uma má relação entre eles, e associarem o filho ao parceiro a que têm más recordações; terem sofrido de uma depressão pós-parto (que afeta de 10-20% das mulheres, e de 3-10% dos homens em Portugal), etc.
É preciso ter em conta que a parentalidade implica todo um processo de aprendizagem, e que ao início se revela muito mais desafiante e difícil para os pais.
Para finalizar, é importante deixar claro que, a incapacidade de um pai sentir amor pelo seu filho pode também estar relacionado com a falta de empatia emocional, ou seja, a sua incapacidade de sentir e partilhar emoções com os outros. Isto implica que ele pode sofrer de algum tipo de distúrbio mental como: transtorno de personalidade narcisista, psicopatia ou sociopatia, esquizofrenia, transtorno de personalidade esquizoide ou transtorno de personalidade histriónica.
E por hoje ficamos por aqui. O que acharam deste Consultório? Têm alguma questão para o próximo domingo?