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umacartaforadobaralho

"o segredo é teres sempre uma carta na manga"

Ano Sabático... Porque não?

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    Veio-me esta ideia por causa da minha amiga Pipa (que já saiu do sapo infelizmente e por isso não posso tagga-la, que o seu blog descanse em paz...), que virou-se para mim um dia e disse: "Este ano vou fazer um Ano Sabático!" E eu na altura fiquei a olhar para ela com ar de carneiro mal morto, como a minha mãe diz, pois não fazia a mínima ideia do que o 'ano sabático' queria dizer.

    Ela procediu a explicar-me que é um ano, - normalmente entre passagens de escolaridades, ou transição da faculdade para a entrada no mundo do trabalho, - que se tira para descanso pessoal. É uma pausa de tudo o que tem a ver com estudo/trabalho, para nos dedicarmos exclusivamente a viajar, normalmente pelo mundo inteiro, com o objetivo de conhecer novas culturas, línguas e pessoas, e de crescer a nível individual.

    Sinceramente, a ideia assustou-me um bocado. Sair da zona de conforto (que é uma coisa que eu odeio), deixar tudo para trás (que é francamente doloroso), e embarcar numa aventura sozinha, sem nada planeado, é provavelmente o início de um filme de terror, para mim. 

    Mas depois veio o estágio. Veio os dias de trabalho sem fim. Veio o início da rotina (e o seu desgaste...). E comecei a pensar "Epa, se isto é o mais próximo que tive do mundo do trabalho, eu não me minimamente sinto preparada para me juntar a esta vida. Já passei 12 anos na escola, para depois passar mais 5 anos a marrar na faculdade, fiz dois estágios que nunca mais acabavam, vou ainda fazer um terceiro pois só assim consigo entrar na Ordem... Eu não quero entrar já na vida de empregado, pois sabe-se lá quando vou ter uma oportunidade depois para sair!"

    E aí veio-me à ideia as vantagens de fazer um Ano Sabático: alargar o meu conhecimento de outra forma; apreciar e dar valor ao sentido da vida; relaxar dos stresses, horários e correrias; alargar os meus horizontes, criar novas memórias, enfim... Viver a vida, como deve de ser!

    As desvantagens? O custo elevado das viagens. Mas para isso existem programas de voluntariado, o airbnb, viagens a destinos mais próximos (e não tão dispendiosos)... Claro que adoraria ir às Maldivas, mas se calhar visitar um país europeu também não era nada mau. Tudo conta, sendo que o importante é afastar-nos do nosso meio tradicional, fugirmos da cansativa rotina diária, e criar novas experiências. E deste ponto de vista, a ideia de tirar um ano só para mim não me parece nada má...  O que vocês acham?

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Como é a vida de casado?

    No meu trabalho, como sabem, dou acompanhamento psicológico a vários utentes, desde crianças a idosos. As temáticas que cada um vem abordar comigo são sempre diferentes, apropriadas para cada caso: seja a motivação para a escola, aprender a lidar com o stress do emprego, problemas matrimoniais... E hoje queria-vos falar do caso de um senhor que tive o prazer de seguir, durante algum tempo, que me ensinou imenso a mim, e eu espero ter ensinado imenso a ele também.

    O principal motivo que o trouxe à consulta foi a sua dificuldade em encarar o envelhecimento na vida do casal, porque já estava casado com a mulher há 50 anos, e provavelmente por isso tinham agora maior dificuldade em 'aguentar' os defeitos (e feitios) de cada um. "50 anos é imenso tempo....".  pensava eu, "Qual é o vosso segredo?" perguntei, em tom de brincadeira. Ao que ele me responde que foi "A paciência, a capacidade em 'adaptarem-se' um ao outro, e o compromisso que tiveram na base de tantos anos felizes ao seu lado..."

    Não foram raras as vezes em que o paciente me disse em consulta que fazia 'acordos' com a mulher, de forma a que os dois ficassem felizes. No caso deles, por exemplo, ele considerava-se uma pessoa muito sociável e divertida, enquanto ela era mais tímida e reservada. Por isso mesmo, ele combinava com a mulher irem os dois semana-sim/semana-não a uma excursão juntos, e em troca, todas as sextas-feiras eles faziam uma sessão de filmes 'caseira', onde a mulher escolhia o filme a ver. E isso aplicava-se a tudo, inclusivamente às lidas domésticas! Era impressionante a forma como este casal, com personalidades e objetivos claramente opostos, conseguia completar-se tão facilmente um ao outro: "Somos como o Ying e o Yang", dizia-me ele em tom de brincadeira.

    Claro que este senhor estava em consulta por um motivo, havia ainda certos aspetos da sua vida que ele precisava de aprender a lidar. Mas a sua motivação, força de vontade, e amor para continuar a lutar pela mulher da sua vida, eram as coisas mais certas que ele tinha na sua vida. Por isso 'senhor', aonde quer que se encontre neste momento, quero que saiba que me ajudou imenso a mostrar o que é a vida de casado, e os desafios da vida adulta. E desejo-lhe uma vida com tudo de bom, muita sorte, saúde... e acima de tudo, amor eterno.

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Viver para o trabalho?!

  Há alguns dias estava a falar com uma amiga minha que me dizia "-Já reparaste que nós, seres humanos, passamos a nossa vida a estudar, para depois ir trabalhar, sem nunca fazermos pausas, até ficarmos bem velhinhos?". E eu naquela altura até estava a achar a conversa interessante porque nunca tinha pensado desta forma, apesar de achar, na mesma, que ela puderia estar a exagerar. Atualmente não acho. A minha Su tinha toda a razão (como sempre!). Nós portugueses (não falo dos outros, porque não tenho a certeza quanto ao resto) estudamos até onde nos é possível, passando anos e anos no básico até secundário, muitas vezes faculdade, para depois sairmos e cairmos redondinhos no mercado de trabalho, onde passamos o resto das nossas vidas (se tudo correr bem e arranjarmos emprego, digo eu). E reparem que digo "Se tudo correr bem" porque sei o quão difícil é viver-se em Portugal sem ter um emprego fixo, sustentável. Mas também sei que a esse emprego falta adicionar uma outra palavra: saudável. O nosso emprego, se é uma ocupação que nos vai preencher tantas horas da nossa vida, devia ser também em  'conta, peso e medida'. Isto é, não devíamos nascer para trabalhar, mas sim para viver tudo aquilo que temos direito. Seja isso viajar, apaixonar-se, sair, descobrir, aprender, conhecer, ler, etc, etc... Pois é isso que nos faz crescer enquanto pessoas. O trabalho em si mesmo ajuda, mas só não chega, é impossível.

    Um dia o trabalho chega ao fim, e o que somos nós sem ele? Nada. Precisamos de todo um nosso suporte por detrás (social, familiar, e por aí fora...) que nos sustente, alimente, e que nos mantenha sã acima de tudo. Porque quanto a mim, eu já sei, eu não me aguento sem ele (foi esse um dos principais motivos que me levou a cancelar a tese, e concentrar-me apenas no estágio).

    Se atualmente estão a trabalhar, e se-se identificam com o que estou a dizer, por favor não deixem esta oportunidade vos escapar. Peçam uns dias para reestabelecer as vossas energias. Eu sei que nem sempre é possível, mas se estão realmente infelizes (ou menos felizes) com o vosso trabalho porque se sentem fartos de trabalhar, programem um fim-de-semana para vocês. Saíam daqui, vão dar uma volta a um sítio novo, vão ao cinema, ao teatro, reúnam o vosso grupo de amigos de anos, dançem a noite toda até cair, leiam, estejam com as vossas famílias, etc...Mas não se deixem sufocar com o trabalho.

    E não me interpretem mal, escreve isto alguém que ADORA aquilo que faz de paixão, e não trocava o seu trabalho por nada. Mas é como tudo na vida: tudo o que é demais, é conta errada. E tudo o que é excesso, depressa cai na exaustão. É preciso fazer intervalos daquilo que se gosta, para depois virmos com mais saudades, e vontade. E para acima de tudo, virmos mais felizes! Palavra de uma psicóloga! 

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