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umacartaforadobaralho

"o segredo é teres sempre uma carta na manga"

#30DomingodeConsultório: "Tenho pânico de estar em multidões"

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    Bom Domingo a todos! E que saudades que eu tinha destes Domingo de Consultório... 

    Hoje voltei com uma temática que uma subscritora me falou há dias, que é o pânico de estar em zonas com muita gente, barulho, filas, etc. O medo de estar em multidões tem várias denominações, no entanto aquele mais utilizado é a Agorafobia

    Indivíduos com agorafobia têm frequentemente pensamentos de que pode ser difícil escaparem de um determinado lugar, ou de que no caso de desenvolverem sintomas de pânico, podem não receber ajuda imediata. Por isso, começam a desenvolver sintomas de ansiedade (ritmo cardíaco acelerado, suores frios, tremores...), sendo esta muitas vezes seguida de ataques de pânico.

 

TRATAMENTO

    Felizmente, a agorafobia vem por fases, sendo que o seu tratamento pode nem precisar de acompanhamento psicológico. Para isso, deve-se...

 

1. Identificar pensamentos irracionais vindos deste medo, e questionar a sua veracidade.  Por exemplo, um pensamento muito frequente de pessoas com agorafobia é 'Da última vez que estive num sítio com muita gente tive uma ataque de pânico; agora estou num sítio com muita gente, por isso também vou ter'.

    Por isso, deve-se questionar 'Até que ponto este pensamento é válido? Que provas tenho que ele é verdadeiro? E que provas tenho que ele é falso? É útil para mim pensar desta forma?', e levar a reestruturar o nosso pensamento: "Lá porque da última vez que estive num sítio com muita gente tive um ataque de pânico, não significa que desta vez terei. Também houve imensas vezes que estive em locais muito frequentados, e correu tudo bem".

 

2. Expôr-se gradualmente à situação desencadeadora, até passar o medo.  Uma estratégia muito usada é fazer uma escala de 10 metas, onde a exposição à situação é gradual, e a pessoa controla a sua duração e frequência (por exemplo, na 1ª meta a pessoa vai acompanhada a um sítio com algumas pessoas, e fica lá durante meia-hora; e na 10ª meta, a pessoa consegue ir sozinha, a um sítio muito frequentado - um centro comercial, festival, etc. -, e passar lá várias horas).

 

3. Praticar técnicas de meditação regularmente.  A exposição a situações que consideramos ameaçadoras pode induzir-nos altos níveis de stress e ansiedade. Daí surge a necessidade da meditação e técnicas de respiração profunda (podem pesquisar termos técnicos na internet como 'respiração diafragmática' e 'treino de relaxamento', há vários vídeos no youtube que demonstram como o fazer).

    Muito importante: Tal como o próprio nome indica, estas técnicas requerem muito treino, e tempo! É normal que nas primeiras 3, ou 4 vezes não sintam grandes alterações no vosso estado de espírito. Para que o treino de relaxamento seja eficaz, há que manter uma prática regular e sistemática. Em compensação, quando estes hábitos de respiração e relaxamento são bem adquiridos, observa-se uma diminuição acentuada dos níveis de ansiedade e de ataques de pânico, e uma maior facilidade em enfrentar futuros medos.

 

    No entanto, se este pânico se tornar problemático e começar a interferir na vossa qualidade de vida, aconselho-vos a procurarem ajuda psicológica. A terapia cognitivo-comportamental costuma ser a mais indicada para estes casos, pois dá técnicas (nomeadamente a dessensibilização sistemática), que ajuda a lidar com o medo, a alterar e controlar os nossos pensamentos disfuncionais, e a modificar o nosso comportamento.

 

    Espero que tenham gostado deste Domingo de Consultório! Que temas gostariam que falasse para a próxima semana? 

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#9DomingodeConsultório: Como lidar com os medos das crianças?

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    Boa tarde a todos os que por aqui passam, espero-vos bem!  Hoje venho falar de medos, e de como (tentar) ultrapassá-los em criança.

 

    A pergunta foi-nos feita pela nossa querida Rute, do blog "O meu maior sonho", que é hoje a nossa convidada: "Como lidar com crianças que tem vários tipos de pânico? Refiro-me a medos misturados com pânico, tipo pânico em estar em zonas com muita gente, barulhos etc. Obrigada"

 

    Cara Rute, visto me especificares um medo em concreto, é nele que me vou concentrar. O medo de estar em locais com grandes multidões tem vários denominações, sendo uma dos mais populares a Enoclofobia. A enoclofobia consiste neste medo irracional de multidões, que são consideradas muito barulhentas para o indivíduo. As causas podem muitas vezes ser genéticas, eventos de vida traumáticos ou stressantes, entre outros... e ocorre normalmente em pessoas tímidas.

    Os sintomas caracterizam-se por: uma ansiedade e mau-estar geral em zonas com muita gente (que pode provocar um ataque de pânico, no seu extremo), aceleração do ritmo cardíaco, suores frios, tremores, etc. E de acordo com a gravidade dos sintomas, e se os ataques de pânico forem demasiado frequentes, aconselho-te a marcar uma consulta de psicologia, para a criança ser avaliada e ver o tipo de acompanhamento que precisa.

    De qualquer modo, há várias coisas que os pais das crianças podem fazer para tentar diminuir este medo:

1) Falar com a criança sobre o seu medo. Não minimizar aquilo que sente, nem apressar para tentar ultrapassar a fobia é essencial. A criança precisa de se sentir à vontade para falar sobre o seu medo, de modo a sentir-se compreendida. Deve perguntar-lhe de que tem medo, porquê, e partilhar com ela os medos que também teve, em criança - de forma a ela sentir que empatiza com a sua dor.

2) Ensinar estratégias para ultrapassar o que sente. As crianças pequenas tendem a imitar os comportamentos dos adultos. Ao mostrar à criança que está confiante e segura em lugares com muita gente, está a dizer que nada de mal lhe acontece se ela fizer o mesmo, logo, está a dar o exemplo para ela. Para além disso, há também a técnica de dessesibilização sistemática: implica apresentar à criança o estímulo de que ela tem medo, segundo uma hierarquia do menor ansiogénico, para a maior. Neste caso seria, por exemplo, começar por expôr à criança algumas pessoas estranhas à sua volta (o menos ansiogénico para ela), e ir avançando gradualmente até grandes multidões (o maior ansiogénico). Em terapia, esta avaliação da hierarquia é feita, e identificada, pela própria criança. Ter um membro da família no momento de enfrentar o seu medo é também fundamental. A criança pode conversar com ela, dar-lhe a mão, e 'centrar-se' nela, para diminuir o surgimento de pensamentos negativos no momento de confronto com o medo.

3) Ensinar técnicas de respiração. A respiração profunda é uma delas, onde se diz à criança para imaginar que os seus pulmões são balões, e que ela deve deixar esvaziá-los lentamente. Este tipo de técnicas deve ser feito quando a criança está prestes a enfrentar o estímulo fóbico, durante o confronto, e depois. O ideal é, se a criança tem tendência a ser muito nervosa, fazer respiração profunda no seu dia-a-dia, uma ou duas vezes por dia é o recomendado.

 

O que acharam do Consultório de hoje? Já sabem que, para terem aqui a vossa questão respondida, só têm que: comentar este post com a vossa questão (em anónimo se não se quiserem expôr, ou com o vosso blog), comentar o post do meu instagram que irá sair sobre o Domingo de Consultório Aberto, OU mandar um e-mail para umacartaforadobaralho@hotmail.com (onde podem, mais uma vez, identificar-se ou não, conforme queiram ou não manter o anonimato). 

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