Soube agora mesmo que a SIC suspendeu a próxima emissão do programa Super Nanny, e decidi por isso que esta era uma excelente oportunidade para deixar aqui a minha opinião sobre tudo isto.
Achei que era importante deixar aqui o meu testemunho por dois motivos muito simples: 1º) tinha curiosidade em informar—me sobre o programa, e dizer o meu ponto de vista, e 2º) sinto que tenho (alguma) (pouca?) credibilidade na minha opinião, visto estar a estudar Psicologia, e por isso estar mais a par de algumas abordagens que a tal Nanny possa ter.
Então, após ter visto o primeiro episódio, tirei as minhas conclusões. Em primeiro lugar, concordo que há muitos pais que necessitem de ajuda a educar os filhos, para não dizer todos. E não é para levar isto como uma ofensa, digo isto da forma mais humilde possível, pois se eu tivesse um filho muito provavelmente também precisaria.
Educar um filho para mim é uma das tarefas mais desafiadoras e exigentes de sempre, pois se por um lado dizem-nos para não sermos demasiado autoritários, que pudemos criar um filho oprimido e infeliz, por outro não se "deve" cair nas suas boas graças e aparar-lhes todos os golpes, pois aí criaremos um marginal. É como se nunca se podesse ganhar como pai.
Para não dizer desde já que cada criança é única, e o que resulta com uma não resulta com outra, e portanto há muito mais a ter em conta do que os fatores genéticos, ambientais, psicossociais, etc.. Tendo isso em conta, pais deste país que me lêm, tiro—vos desde já o chapéu porque, para mim, vocês já são uns heróis.
No entanto, assumir isto, que se precisa de ajuda na educação dos filhos, é uma decisão dificílima de tomar, e são raros os casos que se voluntariam. Contudo, aqueles que reconhecem que precisam de ajuda, têm várias formas de o fazer: procurar apoio psicológico para os próprios, para a criança, falar com a professora da escola no sentido de perceber o que se pode fazer, falar com o médico de família, etc, etc.. Sendo que, na minha opinião, levar a criança e todo o ambiente familiar que a rodeia para a televisão, seria a última das minhas opções.
O Eduardo de Sá deu um excelente ponto de vista quando disse "Não se entende se, no caso de Supernanny ser um programa de informação, porque motivo não cumpre os critérios éticos que deveria respeitar ou, no caso de não o ser, não se percebe de que forma um programa de entretenimento pode ser alimentado com dilemas gravíssimos de famílias e de crianças reais.". Ou seja, segundo o psicólogo, a SIC poderia ter optado por: ou fazer um programa de informação, no sentido de divulgar ao público algumas das técnicas psico—pedagógicas utilizadas em crianças e jovens, ou fazer um reality—show baseado em histórias de vida como estas (sem expôr a verdadeira identidade dos referidos). No entanto, a SIC optou por misturar os dois, juntando o útil ao agradável, e é aí, na minha opinião, que peca.
Ao criar um programa com este não está a aplicar, de todo, nenhuma abordagem psicopedagógica como alega, - pois está a a expôr menores a milhões de pessoas, colocando em causa a sua integridade física e psicológica -; e não está a cumprir o requisito de programa de entretenimento visto estar a retratar problemas reais, potencializando o desenvolvendo de crianças fragilizadas, humilhadas, e estigmatizadas pelos pais.
Por isso cá vai a minha sugestão para a SIC. Acho muito bem e de grande valor existir uma fonte de educação a pais que, muitas vezes, precisam de ajuda a educar os seus filhos, mas façam-no de forma a não expôr nenhum dos intervenientes. Sugiro que se foquem apenas em informar, e até sugerir, boas práticas a se ter em conta na educação, de forma a tranquilizar algumas das preocupações dos pais, e diminuir o seu nível de stress. Vamos todos aproveitar esta lição para criar algo grande e novo, e fazer a diferença!